quinta-feira, 20 de abril de 2017

MOUZINHO DA SILVEIRA: DENUNCIADO COMO MAÇON E “LIBERTINO DA PRIMEIRA ORDEM”



Mouzinho da Silveira denunciado como maçon e «libertino da primeira ordem». Um curioso documento de 1823 sobre a Maçonaria em Portalegre – via António Ventura Facebook.
 No seguimento da nova perseguição aos pedreiros-livres em 1823, o Corregedor da Comarca de Portalegre, António Joaquim de Gouveia Pinto escreveu ao Intendente Geral da Polícia da Corte e Reino, dando-lhe conta das diligências feitas acerca da actividade de elementos subversivos naquea cidade. O documento é do maior interesse porque refere diversos suspeitos de maçonismo:

«Participo a V. Exª que hoje mesmo acabo de tirar o sumário que a Ordem dessa Intendência Geral da Polícia de 9 do passado, me mandou proceder, e tendo nele pronunciado, entre outros, José Xavier Mouzinho da Silveira, Administrador Geral da Alfândega dessa cidade, e natural de Castelo de Vide, e desta Comarca, em que acabou por ser Provedor, e onde propagou a seita dos Pedreiros Livres, que tinha plantado e promovido na Vila de Setúbal, quando ali fora Juiz de Fora, e onde é constante que estabelecera duas lojas deles; sendo um libertino da primeira ordem, e tão escandaloso, que nunca ouvia aqui Missa, e poucas vezes a família, e um declarado inimigo da Religião e dos Tronos; e bem assim o dito médico Manuel Joaquim Madeira, desta cidade, amigo inseparável de Frei Francisco de Ave Maria, que há pouco mandei preso para essa Intendência; da mesma seita de José Xavier Mouzinho da Silveira, seu cordial amigo, e que por isso, desaparecendo desta cidade no dia 26 do passado, logo que viu o seu amigo preso, dizem que está nessa cidade em casa do mesmo José Xavier, onde já tem sido hóspede; e sendo a casa do referido médico, onde se veio hospedar José Xavier e João da Silva Carvalho, irmão de José da Silva Carvalho, quando no mês de Abril do ano passado vieram a esta Província procurar adeptos para a mesma sociedade, ou fazer recrutamento de Pedreiros Livres, como foi público; assim como também o Joaquim Larcher, por ter a mesma nota de Pedreiro Livre, e da sociedade, e particular amizade do referido José Xavier, o qual se acha na companhia de sua mãe e viúva Larcher, proprietária da Fábrica de Lanifícios desta cidade, e que mora nessa cidade, em umas travessas ou rua próxima onde tem armazém de panos; e, finalmente, o advogado João Carrilho da Costa Gil, desta cidade, que com outro irmão do referido Larcher fugiu para aí há coisa de 5 ou 6 dias, logo que soube que eu abrira o sumário, indo sem passaporte para essa cidade, e pela mesma razão dos já referidos, e ser, além de libertino, e sem moral ou Religião, em cuja casa se formava uma sociedade de constitucionais exaltados para promoveram a Constituição e espalharem notícias aterradoras para os realistas, a que chamavam corcundas. Chegando a sua ousadia a pôr, depois da Aclamação de El-Rei Nosso Senhor, no chapéu uma pena preta de galinha, em lugar do laço das cores azul e encarnado, que puseram todos os bons portugueses; e sendo necessário que eles se segurem aí, e se prendam antes que saibam que se prendem aqui os seus sócios, por isso faço este a V. S. para esse fim. Se lhe parecer justo, como a mim; pois que o próprio sumário o remeto a essa Intendência de hoje a oito dia sem falta, não podendo ir primeiro, por ser necessário copiá-lo, e haver outras coisas necessárias a fazer.

O médico Madeira, que deve estar em casa de José Xavier, pode ser aí preso, e é de estatura alta, rosto redondo, e inclinado para o chão. Joaquim Larcher é de estatura ordinária, cabelo louro grenho, branco, olhos azuis, estrangeirado, pois seu pai era francês.

E o Dr. Carrilho é de estatura mui baixa e grossa, muito direito, cabelo louro, branco, e rosto alguma coisa comprido, com algumas bexigas; e fez-se célebre, pelo seu modo de andar muito teso; deve estar na mesma casa de Larcher.
Deus Guarde a V. S. Portalegre, 7 de Julho de 1823»

"Mouzinho da Silveira denunciado como maçon e «libertino da primeira ordem». Um curioso documento de 1823 sobre a Maçonaria em Portalegre" – via António Ventura Facebook – com sublinhados nossos.

J.M.M.

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