sexta-feira, 26 de agosto de 2016

[ASSOCIAÇÃO MANUEL FERNANDES THOMAZ] HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES THOMAZ – FIGUEIRA DA FOZ



DISCURSO PROFERIDO NA HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES THOMAZ NO DIA 24 DE AGOSTO DE 2016, NA FIGUEIRA DA FOZ, pela Associação Manuel Fernandes Thomaz

A Associação Manuel Fernandes Thomaz, constituída a 12 de Janeiro de 1988 pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, e por António Fernandes Tomás Veiga, Henrique Fernandes Tomás Veiga, Maria Amélia dos Anjos Gomes de Pina Veiga, Maria Elisa Pina Tomás Veiga Ferreira, Henrique Manuel Pina Tomás Veiga, Agostinho José Barbosa Ferreira, António Augusto dos Santos Menano e Manuel Barroso dos Santos, surgiu, e passo a citar, porque “várias pessoas e entidades estão interessadas na constituição de uma associação de índole cultural ou de qualquer outra índole relacionada com o movimento liberal encabeçado pelo figueirense MANUEL FERNANDES THOMAZ, (…) certos de que a sua outorga corresponde à vontade de um grande número de interessados”.
Desde sempre com sede na Figueira da Foz e contando, como figura de proa, com o interesse sapientíssimo e empenhado de Henrique Fernandes Tomás Veiga, a Associação visou os seguintes fins:

- promover a trasladação dos restos mortais de Manuel Fernandes Thomaz, de Lisboa para a Figueira da Foz;
- colaborar com a Câmara Municipal da Figueira da Foz nas comemorações da trasladação dos restos mortais de Manuel Fernandes Thomaz;

- fomentar a efectivação de estudos filosóficos, jurídicos, políticos, históricos, ou de qualquer outra índole, que permitam fixar os reflexos das ideias liberais, considerando, com particular atenção, o movimento encabeçado pelo figueirense Manuel Fernandes Thomaz;
- realizar as acções artísticas e culturais que, quer no plano pedagógico, quer no plano económico, se verifique ser necessário implementar como base para a consecução daqueles fins.

Ora, cumpridos a 24 de Agosto de 1988 os dois primeiros fins da sua criação, e porque acreditamos que as Organizações devem ser Entidades vivas e com propósito, valerá certamente a pena, hoje, reflectir acerca de duas questões, as quais, humildemente, enunciamos, acerca do papel da Associação Manuel Fernandes Thomaz:
- de que forma melhor respeitamos, hoje e no futuro, o supremo legado de integridade, valentia, igualdade, justiça, liberdade, sagacidade, reformismo, patriotismo, que o figueirense Manuel Fernandes Thomaz nos deixou?

- como materializamos este legado, em actividades que correspondam à fixação dos reflexos das ideias liberais, e não a um mero activismo ou, até, a um ritualismo frio de sentimentos, desvirtuador da irrequietude cívica do erudito e pensador que se preocupava com os males da pátria, cujos desastres sucessivos lhe enlutavam o generoso coração?
A morte de Manuel Fernandes Thomaz, a 19 de Novembro de 1822, impediu-o de continuar a sua luta em prol de um Portugal mais justo, mais livre, mais elevado, mas também o preservou de assistir à incapacidade dos seus contemporâneos em aplicar as bases da Declaração dos Direitos do Homem, fundamento principal da “sua” Constituição de 1822.

Manuel Fernandes Thomaz é reconhecido como o honrado e austero liberal que libertou o nosso País do jugo estrangeiro, liderando uma revolução “que se fez por aclamação, porque ninguém a ela naquele tempo se opôs e foi universalmente recebida e festejada como a restauradora da pública felicidade”, de acordo com José Liberato Freire de Carvalho, e iniciando, com a já referida Constituição de 1822, “a organização jurídica da democracia”, segundo Joaquim de Carvalho.
Hoje, 194 anos após a sua morte, será desapropriado ou demagógico chamar-lhe “o mais ilustre de todos os figueirenses”?


Assim, desprovidos de qualquer outro sentimento ou intenção que não seja a preservação dinâmica do legado de Manuel Fernandes Thomaz, e lembrando, sobretudo, a Democracia – do grego “demos”, povo, o qual detém o poder soberano sobre os poderes legislativo, executivo e judicial, exercidos em nome de todos os cidadãos pelos seus representantes livremente eleitos, os quais devem ser o garante da liberdade humana (de pensamento, de expressão, de protecção, de participação plena na vida política, económica e cultural da sociedade) -, aqui deixamos o repto de, como sociedade democrática, a qual está, assim, por imperativo ideológico, baseada em valores (como o da tolerância, da cooperação, do compromisso, por exemplo, conforme nos mostrou Manuel Fernandes Thomaz), todos juntos, com a intrepidez, a coragem, a ousadia, mas também eivados de um espírito cívico fundamentado e sábio, trabalharmos com o intuito de, em 2020, por ocasião do duplo centenário da Revolução-mãe, centrarmos na Figueira da Foz, terra natal de Manuel Fernandes Thomaz, as comemorações nacionais desta épica efeméride.

Há 100 anos atrás, escrevia-se que “a celebração do centenário da Revolução de 1820 constitui uma divida nacional. Impunha-se como um dever a todos os liberais. Dominava o país uma opressão traiçoeira; esmagava-o a intervenção férrea do estrangeiro. Foi nestas circunstâncias que apareceram os patriotas de 20, como libertadores e como precursores. Clamaram-lhes e chamam-lhes ainda hoje ingénuos. Ingénuos, sim, para os que são incapazes de avaliar o espírito de sacrifico. E é esse espírito, que torna o homem cidadão e apóstolo, o que mais e melhor caracteriza os heróis daquela revolução, digamo-lo sem favor. (…) Uma revolução que principia por proclamar a liberdade de pensamento, a liberdade de imprensa, a abolição da censura prévia, numa época de fanatismo e de reacção, tem foros adquiridos a uma consagração nacional. É uma divida a saldar pela República Portuguesa que é um reflexo daquele patriotismo e daquela abnegação”.

Sejamos então capazes de construir as pontes necessárias à concretização deste desiderato, que tanto honrará, certamente, a nossa cidade, bem como o legado do figueirense Manuel Fernandes Thomaz!

[Associação Manuel Fernandes Thomaz, 24 de Agosto de 2016]

FOTOS de Manuel Úria, com a devida vénia | sublinhados nossos

J.M.M.

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