sexta-feira, 13 de março de 2015

CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE II


Camilo Pessanha é iniciado na maçonaria, com o número 6980, a 27 (ou 29?) de Novembro de 1910, na Loja Luís de Camões II, nº 309 do GOLU, de Macau [Camilo Pessanha chega a Macau a 10 de Abril de 1894], com o n.s. de “Angélico”, ascendendo a 6 de Junho de 1916 ao grau 15.º e em 22 de Julho, desse ano, ao grau 18.º (Cavaleiro Rosa-Cruz); em 1918, tinha já o grau 25.º; a 15 de Setembro de 1919 ascende ao grau 30.º [os seus Irmãos são “José Vicente Jorge, Constâncio José da Silva e, eventualmente, Silva Mendes” - ver AQUI). Na loja teve o cargo de Orador (1911 – cf. Boletim Oficial do GOLU, Janeiro-Março, 1911, p. 31) e foi Venerável da Luís de Camões nº 383 (a loja reergueu-se em 1915, depois de abater colunas em 1914, daí o novo número de registo, conforme adiante referiremos).
[AO ALTO] “Um curioso documento assinado por Camilo Pessanha. É bem conhecida a filiação maçónica do poeta da ‘Clepsidra’ e o facto de ter pertencido à Loja Luís de Camões, de Macau, na qual desempenhou durante muitos anos o cargo de Vigilante (Presidente). Este documento comprova tal facto. Trata-se de um atestado em nome do oficial do exército Joaquim Felizardo Adão Antunes, datado de 19 de Outubro de 1918, selado e assinado por Camilo Pessanha, na qualidade de venerável, e por outros oficiais da loja” [via António Ventura Facebook]
A Loja Luís de Camões II, nº 309,

[tenha em conta que existia uma outra Loja com o mesmo Patrono, a Luís de Camões, a Oriente de Lisboa, que instalada em 1895 com o número de registo 195, mas que em 1902, quando regressa ao GOLU depois ter aderido ao Grande Oriente de Portugal, recebe o nº 226. Por outro lado, no que diz respeito à actividade de lojas maçónicas em Macau, diga-se que não há documentos conhecidos que refiram a existência de qualquer loja ou triângulo, anterior a 1906. Por isso a alusão a uma denominada Loja Luís de Camões de Macau, presumidamente a partir da Loja Lusitanea (1815), loja de exilados portugueses em Londres - onde era Venerável Hipólito José da Costa e debaixo dos auspícios da Grande Loja de Inglaterra -, não se pode confirmar. Conhecido é documentação avulsa de instalações de Lojas sob o domínio da Grande Loja da Suécia e de Inglaterra no Cantão, por volta de 1788, mas, curiosamente, nada nos é referido sobre a região de Macau.
Porém, alguns dos mais antigos (conhecidos) maçons residentes em Macau participaram activamente nos movimentos liberais do seu tempo, tendo mesmo fundado importantes clubes de reflexão política, social e cultural. De facto, no período anterior a 1906, em Hong Kong e em Macau, alguns prestigiados portugueses foram tidos como maçons. Como exemplo, o médico ateu, darwinista e republicano Lourenço Pereira Marques (1852-1911) e Polycarpo da Costa (1837-1884) gozavam de especial estatuto nos círculos maçónicos, principalmente de Hong Kong. É possível que L. Pereira Marques tenha sido iniciado antes do seu regresso a Hong Kong em 1882 (na Grande Loja de Dublin – 1877 ? -, cidade onde se diplomou, ou até mesmo em Portugal, numa das lojas pertences à Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês, anteriormente a esta obediência integrar, em 1872, o GOLU); quanto a Polycarpo da Costa esta confirmado a sua filiação maçónica a partir da descrição do seu funeral, noticiado em periódicos da época, e pela simbólica presente no seu mausoléu. De igual modo seriam (?) maçons, José Osório de Castro Cabral e Albuquerque (1779-1857, governador de Macau, iniciado na Loja Audácia, de Coimbra em 1838, com o n.s. Leónidas – refª A.H. Oliveira Marques); Adrião Acácio da Silveira Pinto (17xx-1868, tenente-coronel e governador de Macau, entre 1837-1843, mais tarde governador de Angola, 1848-51); o Barão do Cercal, António Alexandrino de Melo (1837-1885 – ver mais em “Galeria de Macaenses Ilustres do século XIX”, de P. Manuel Teixeira, Macau, 1942, pp. 243-264); Assim sendo - e tendo em conta a difícil situação político-religiosa da época e o secretismo que se exigia - a existência de oficinas maçónicas, com influência ou auspícios de portugueses é hipótese a considerar – sobre esta questão e mais apontamentos acerca da Loja Luís de Camões, ver João Guedes, “Subsídio para a Historia da Maçonaria em Macau]

do REAA, foi instalada em 1909 e resultou da transformação do triângulo nº 90 [instalado pelo Decreto nº7 de 23 de Janeiro de 1906 – cf. Boletim do GOLU, Junho de 1907, p. 11], por iniciativa da loja maçónica de Coimbra, Pro Veritate. A sua acção em Macau é determinante na “proclamação da República”, tendo pertencido à loja um número significativo de militares, advogados, funcionários públicos e jornalistas.
Abateu colunas em 1914 (José Bernardo Ferreira, na sua obra “Maçonaria Universal”, 1921, à p. 156, refere a data do Decreto de dissolução, o dia 2 de Março de 1915). E no ano de 1915 [Decreto nº13, de 8 de Abril de 1915] reergueu colunas [“sem os elementos indesejados” – cf. Arnaldo Gonçalves, “A primeira República, Macau e os Maçons”, Revista da Maçonaria, nº2, Fevereiro de 2012, p. 84] agora com o número de registo nº 383, mantendo-se em actividade até à clandestinidade – refª A.H.O.M., in Dicionário … – sendo que em 1947, ainda havia notícias que se mantinha em trabalho [sobre o surgimento da Maçonaria em Macau, a Loja Luís de Camões, o seu quadro, bem como o percurso maçónico de Camilo Pessanha, consultar o excelente artigo de Arnaldo Gonçalves, ibidem; de igual modo, cf. João Guedes].
[A CONTINUAR]
J.M.M.

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