quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

MANUEL DENIZ-JACINTO (PARTE I)


Manuel Deniz-Jacinto nasceu em Condeixa-a-Nova a 8 de Janeiro de 1915. Assinalando amanhã o centenário do seu nascimento, organiza-se no próximo dia 10 de Janeiro, sábado, uma homenagem no Cine-Teatro de Condeixa, conforme se pode ver no cartaz abaixo.

Manuel Deniz-Jacinto frequentou as licenciaturas em Ciências Matemáticas, Engenharia Geográfica e Ciências Pedagógicas, entre 1933 e 1943. Num dos livros de curso é possível encontrar uma curiosa caricatura desta personalidade conforme podemos ver abaixo.

Apaixonado pelo teatro, começou por ingressar no Grupo Cénico do Fado Académico da Universidade de Coimbra e, algum tempo depois (1938), fundou com o Professor Paulo Quintela o Teatro dos Estudantes da Universidade (TEUC), onde ainda se recordam as suas representações de Diabo nas peças vicentinas e os cenários desenhados por Tossan. Enquanto estudante foi ainda Presidente do Orfeon Académico de Coimbra e Presidente da Associação Académica de Coimbra.


Terminados os estudos universitários e terminada a II Guerra Mundial envolve-se com as actividades oposicionistas e adere ao MUD Juvenil, facto que lhe provou logo problemas com a polícia política. Foi ainda membro do MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista) e do Partido Comunista Português onde passou a integrar o sector intelectual do PCP na região de Coimbra.

Em 1945 assume temporariamente funções como director do Diário de Coimbra, onde permanece entre 2 de Fevereiro e 4 de Julho, tendo o jornal sido suspenso de publicação entre 7 de Julho de 1945 e 4 de Julho de 1946. Tudo indica que o motivo desta suspensão foi a publicação em 29 de Junho de 1945 de um artigo sobre a história de um trapezista de nome Max, que já com idade avançada e depois de já ter deixado o trapézio quis regressar à actividade, contrariando todas as indicações que lhe davam. No entanto, o episódio terminou de forma trágica já que o trapezista morre. Esta história aparentemente inocente e aceite para publicação pelos serviços de Censura acaba por ser associada à figura do reitor da Universidade, Maximino Correia. Visado na história seria também o próprio chefe de Governo da época (Salazar), facto que acabou por conduzir à suspensão que atrás fizemos referência [Mário Matos e Lemos, Jornais Diários Portugueses do século XX. Um Dicionário, Coimbra, Ariadne Editora/CEIS 20, 2006, p. 248-252]. Porém, a publicação de alguns artigos polémicos levou a que os Serviços de Censura do Estado Novo o suspendessem do cargo e posteriormente o demitissem das funções que tinha assumido.

No ano seguinte foi identificado pela PIDE como elemento com actividade política que interessava vigiar e acaba por ser preso na Figueira da Foz em 30 de Setembro de 1949 tendo cumprido pena até 1953 na Cadeia do Aljube e no Forte/Prisão de Caxias. Nessa ocasião foram presos também Mário Temido, Albano Cunha, Brito Amaral, António Júdice e Pinto Loureiro, facto que representou o desmantelamento quase total do Sector Intelectual do Partido Comunista na região de Coimbra (José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal. Uma Biografia Política. O Prisioneiro [1949-1960], vol. 3, Círculo de Leitores, Lisboa, 2005, p. 53). Na sequência destas prisões conhece a tortura e diversos castigos físicos.

Estabelece-se na cidade do Porto, em 1953, onde desenvolve a sua ligação ao teatro, aprofundado os seus conhecimentos. Nessa época ingressa no Teatro Experimental do Porto (TEP), onde desempenhou as funções de director da Escola de Teatro do TEP. Paralelamente foi leccionando as disciplinas de História do Teatro e Arte de DizerAs tarefas pedagógicas e do ensino foram uma constante na sua vida. Dedicou-se à encenação e procurou transmitir aos actores que dirigia os ensinamentos que foi recolhendo ao longo dos tempos. O reconhecimento da sua actividade na cidade invicta levou-o a ser convidado para dirigir o Curso de Teatro da Escola Superior Artística do Porto (ESAP), desde o momento da sua criação.

[em continuação]

A.A.B.M.

1 comentário:

Luís Alberto Meneses Almeida disse...

Realço a personalidade fascinante que foi Dinis Jacinto na academia de Coimbra enquanto presidente do Orfeon Académico de Coimbra e de presidente da Associação Académica de Coimbra.
Foi com o Professor Paulo Quintela, co-fundador do T.E.U.C ( Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra).
Tive conhecimento de que o meu avô paterno, médico e professor de Medicina na Universidade de Coimbra,foi uma das testemunhas de defesa de Dinis Jacinto, aquando do seu julgamento muito provavelmente em meados dos anos 40 do século XX, num tristemente famoso tribunal plenário.