terça-feira, 16 de outubro de 2007

HELIODORO SALGADO (Parte I)


Nascido em S. Martinho de Bougado (Santo Tirso) em 8 de Julho de 1861. Proveniente de uma família com alguma cultura e influência local, o pai Eduardo Augusto Salgado era engenheiro e desempenhou ocasionalmente as funções de jornalista e tradutor de obras de Renan.
Estudou no Colégio dos Órfãos juntamente com o seu irmão, Ângelo, após o falecimento do pai.

Começou a desenvolver a actividade de jornalista no jornal O Operário de tendências socialistas, porque nessa altura estava inscrito no Partido dos Operários Socialistas. No final da década de oitenta do século XIX começa a aproximar-se cada vez mais das ideias republicanas a que veio a aderir próximo do Ultimato inglês de 1890. Nas eleições realizadas em Março de 1890 apresentou-se como candidato a deputado, mas obteve um resultado decepcionante. Manifestou sempre fortes preocupações sociais destacando-se como defensor da instrução popular, da melhoria das condições de vida das classes trabalhadoras e a veemência dos seus textos valeram-lhe em diversas ocasiões a prisão e a censura dos seus escritos. A primeira vez que foi detido foi em 15 de Agosto de 1891 e outras já fomos fazendo referência nas Efemérides mensais que temos vindo a publicar.

“Protótipo do proletário intelectual”[David Ferreira, Dicionário de História de Portugal, vol. V, dir. Joel Serrão, Livraria Figueirinhas, Porto, 1992, p. 425-426], Heliodoro Salgado acaba por morrer com 45 anos. Era considerado um grande orador nos comícios organizados pelos republicanos, para defender as causas dos mais fracos e injustiçados socialmente.
Considerado”um dos progenitores do anarquismo intervencionista” [António Ventura, Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal. As Convergências Possíveis (1892-1910), Edições Cosmos, Lisboa, 2000, p.193-205], manteve-se ao longo da vida um “franco-atirador” que considerava: “os partidos políticos são, como as religiões, inimigos da novidade. São improgressivos como congregações. Os seus dogmas chamam-se programas. Cada artigo do programa é um artigo de fé.”[Como estas palavras ainda hoje mostram a sua validade! Talvez ainda mais que no passado.] A dimensão e complexidade do seu pensamento pode ser acompanhado no trabalho supra referido, embora seja de destacar a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre este autor socialista, republicano e anarquista.

A partir de 1897 instala-se em Lisboa e, logo no ano seguinte, integra a Comissão Municipal Republicana de Lisboa, ainda que como suplente. Preside também ao Centro Republicano Pátria e à Assembleia-geral da Associação Propagadora do Registo Civil.
Dedicava-se à actividade lectiva de Português, Francês, Literatura, História e Filosofia em regime livre para conseguir alguns proventos para sobreviver em termos materiais.

Assumindo-se desde bastante jovem como republicano e livre-pensador. Foi iniciado na Maçonaria em 1890, com o nome simbólico de Lutero, na Loja Obreiros do Trabalho, de Lisboa, pertenceu depois às lojas União Latina, do Porto (1893) e Elias Garcia, de Lisboa (1897). Foi ainda secretário do Vintém das Escolas e redactor da respectiva publicação. Foi um dos participantes na Conferência Nacional Maçónica da Figueira da Foz em Setembro de 1906.

Desempenhou, no período final da sua vida as funções de arquivista do Directório do Partido Republicano.
Faleceu em Lisboa a 12 de Outubro de 1906.

Foto:in Fundação Mário Soares [Documentos Carvalhão Duarte]

[em continuação]

A.A.B.M

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